"Zangam-se as comadres, sabem-se as
verdades" - EUA e RU, bases do sistema financeiro parasitário
global, receando a perda de controlo do sistema, dão mostras de
alguma ansiedade face ao crescente protagonismo doutros pólos financeiros
mundiais.
Daí que assistamos à representação destes 'entreactos', de suposta luta contra a corrupção, produzidos precisamente pelos próprios centros que são os 'pais' da corrupção - que a fazem mascarada sob formas 'legais', ou seja, dentro das regras que eles-mesmos instituiram à escala planetária e lhes permitem uma extorsão ad infinitum - beliscada por outros usurários da alta finança, sendo que a Suiça é um dos mais antigos e experientes.
Quando o sistema entra em crise e passa ao formato financeirizado, há que contar cada milhão, melhor, cada bilião, a esta escala. No fim do dia é o que está em causa - a redução ou aumento dos lucros das várias 'aves' da rapina financeira global.
A presente análise tem por referência o escândalo que rebentou há cerca de um ano atrás, de fuga aos impostos envolvendo milhares de magnatas de todo o mundo com base em bancos suíços, que depositavam nas suas contas os capitais evadidos ilegalmente.
Embora a investigação parta dos EUA, este país é apenas um dos investigados, já que os inquéritos se estendem à França, ao Reino Unido, a Portugal, e a muitos
outros países.
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É a esta luz que o artigo seguinte deve ser lido.
«Na semana passada, Pierre-Condamin
Gerbier, ex-agente/empregado bancário, foi submetido a um procurador suíço sob acusações de
violação do segredo profissional por fuga de informações para as autoridades
francesas. Tais informações forçaram a renúncia no ano passado dum ministro das
Finanças francês, que tinha contas secretas na Suíça numa fase em que o seu próprio governo lutava contra a evasão fiscal. O resultado é que estes empregados
bancários - apanhados no meio duma luta entre instituições judiciais - estão
'tramados' qualquer que seja o lado que decidam ajudar.
É por isso que, estando a ser pressionados para revelar os seus segredos ou os dos clientes, pelas autoridades americanas e outras que investigam evasões fiscais e demais crimes, eles optam por manter o código do silêncio.
Para estes agentes bancários cujas funções podem provocar processos legais no estrangeiro, o silêncio significa evitar a extradição e poderem ficar na Suíça a viver num limbo legal e pessoal.
Se você
der com a língua nos dentes está social e financeiramente morto"
- disse Rudolf M. Elmer, que dirigia a operação nas Caraíbas do
banco suíço Julius Baer até 2002, e está sob
investigação [das autoridades suiças] desde há nove anos, por divulgar
informações secretas de clientes a partir dum posto avançado nas Ilhas
Cayman às autoridades fiscais da Suíça e do
estrangeiro. "Você
enfrenta a ameaça de ir parar à prisão. A sua carreira bancária está arruinada.
Você nunca mais vai conseguir emprego" [na Suiça].
Descrevendo toda uma vida de técnicas dignas de James Bond (que ironizava num filme de 1999: "Se você não confia num banqueiro suíço, que mundo é este?"), os agentes bancários entrevistados disseram que uma das práticas sob investigação criminal intensiva - o recrutamento clandestino de clientes nos Estados Unidos - não só era conhecido pelos seus chefes, como faz parte do modelo de negócio.
Um agente bancário veterano, que não quis ser identificado por medo de ser acusado na Suíça por violação de sigilo, disse que cada empregado que trabalhou com clientes americanos seguia estritas normas de segurança.
Ele disse que os agentes dos bancos levavam computadores portáteis especiais, formatados para poderem apagar a informação instantaneamente tocando numas teclas, e impressoras portáteis para evitar deixar qualquer vestígio. Eles evitavam ficar nos mesmos hotéis de luxo duas vezes, mudando-se imediatamente se alguém os reconhecia ou chamava pelo nome. Cortavam o nome dos recibos bancários. Os clientes telefonavam de telefones públicos, usando nomes de código.
Ele disse que andava com listas de papel separadas, uma com números de código e outras com os nomes. Esses nomes nunca apareciam em registos bancários, porque estavam protegidos por um labirinto de fundos offshore e de fundações, disse. O interesse destes agentes bancários suíços para as autoridades americanas, segundo ele, é que os agentes sabem as identidades dos clientes, uma vez que se encontravam com eles em eventos de classe alta como o Art Basel em Miami Beach ou torneios de golfe.
"Tudo
isto foi feito durante muitos anos", diz o agente bancário. "Toda
a gente sabia. Lembro-me de uma festa há alguns anos atrás com outros agentes
bancários em que eu disse: 'vocês sabem que nós estamos sempre com um pé na
prisão'. Todos riram. Talvez por isso éramos tão bem pagos",
Embora estas histórias pareçam situar-se numa fase "quente"
do sistema bancário suíço, a cultura continua a mesma, dizem os agentes
bancários, os reguladores e outros especialistas.
"Em rigor nada mudou fundamentalmente", disse Jean Ziegler, socióloga e escritora suíça. "O grande problema dos bancos é que violar o sigilo é considerado traição".
Os bancos suíços gerem mais de US $ 6 triliões em ativos []Nota: 9
vezes o PIB da Suiça, de US $ 684,5 biliões, em 2013], mais de metade
provenientes do estrangeiro, números que se têm mantido relativamente estáveis,
mesmo durante a crise económica e as pressões de governos no exterior para uma
maior transparência dos depositantes, de acordo com Daniela Fluckiger,
porta-voz para a área comercial da Associação Suíça de Bancários.
Até à data, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos acusou
mais de 35 agentes bancários suíços e 25 consultores financeiros por má conduta
e evasão fiscal. Seis foram condenados ou declararam-se culpados.
Raoul Weil, ex-chefe do negócio de gestão de
riqueza global da UBS, aguarda julgamento em prisão domiciliar no
centro de Nova Jersey com uma pulseira de segurança. Os outros
vivem basicamente exilados no seu próprio país.
Alguns agentes bancários sob investigação dizem que seus próprios bancos lhes
recusaram hipotecas e fecharam as suas contas por receio de perderem reputação.
Um deles sofreu uma invasão domiciliar de madrugada [na Suiça, obviamente] e
levaram-lhe o computador e o telefone.
Agora estes empregados dos bancos interrogam-se se os 100 ou mais bancos suíços
vão entregar os mais de 1.000 nomes e respetiva informação aos Estados
Unidos, de acordo com a Associação Suiça de Bancários, área
comercial. O Departamento de Justiça disse que estes nomes
são necessários para investigar os impostos sonegados pelos bancos, agentes e
consultores implicados.
"Vamos fazer o máximo para que os empregados não paguem pelas
estratégias dos seus chefes", disse Denise Chervet, um
porta-voz da associação. "É inacreditável que, agora, alguns dos
altos executivos afirmem que não sabiam".
Para muitos destes empregados bancários, o caso do sr. Elmer é
instrutivo. Agora desempregado, ele foi preso durante mais de 200 dias e, algumas vezes, mantido em isolamento durante as investigações [suiças] por
violações de sigilo - mesmo tendo entregue essas violações às autoridades
fiscais suíças.
O sr. Elmer tem um contencioso com o seu ex-banco por causa deste ter posto detectives particulares a seguirem-lhe a família em 2011, tentando descobrir o património da sua filha, o que prova com documentos.
Um porta-voz do banco Julius Baer - um dos que está sob
investigação nos Estados Unidos por evasão fiscal - recusou-se a discutir o caso do sr. Elmer.
Nos últimos anos, o sr. Elmer observou como os ex-colegas
enfrentam escolhas difíceis semelhantes sobre a quebra do código de silêncio
absoluto. Nenhum deles, segundo diz, 'rachou'. "Eles [os
bancos] têm poder para destruir as suas vidas", disse Elmer».
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