Uma propaganda agressiva dos
marketeiros da destruição de todo um património de
gerações campeia pelos media do sistema e pelas redes sociais, inclusive
em grupos de onde há pouco tempo seria banida sumariamente.
Os partidos e ativistas que deviam
desmontá-la não o fazem, seja por ausência dum trabalho de preparação devidamente orientado, seja por
colaboracionismo de alguns partidos com a privataria selvagem em curso.
A TAP é o foco de momento.
Eis a minha resposta em seis pontos.
1.
“Esta
vai ser uma privatização criteriosa”
Privatização
criteriosa?
É
bom recordar algumas siglas: ANA, PT, BES, Cimpor, BPN... e a
quantidade de propaganda que precedeu a sua entrega –
"dinamismo, modernização, benefícios concorrenciais".
Começam
já a observar-se as consequências graves da privatagem sobre elas.
E
a procissão vai no adro.
Esperem
até “eles” terem a faca e o queijo na mão, politicamente.
É
que à beira de eleições e com os novos donos do País ainda em
fase de consolidação, convém disfarçar. O pior vem depois...
Mas
já vão abrindo um pouco o jogo. Se não, vejamos:
ANA –
Concessinada por 50 anos
à construtora francesa Vincis,
já detentora da Lusoponte,
tem subido continuamente as taxas cobradas ao público.
Com esta
privatização, fica criado um monopólio nas infraestruturas
estratégicas em torno de Lisboa, sem alternativas para o
consumidor.
Os riscos de
abuso e de negócios parasitários no futuro são elevadissimos,
como se vê no Acordo de Concessão, Cap. II (Objeto), ponto 5.2.:
“O
direito exclusivo
pela Concessionária de apresentar
ao ...[Estado]
uma proposta de conceção [sic],
construção, financiamento e/ou exploração e gestão do
Novo Aeroporto de Lisboa”
Conferir AQUI.
PT – Fez investimentos
gigantescos no Brasil e detinha 50% da Vivo (a mais moderna operadora
brasileira), mas após a propaganda maciça pelos ideólogos da
privataria de que a fusão com a Oi seria um 'excelente negócio',
a PT é tomada pela Oi.
Súbitamente, a endividada operadora
Oi decide desfazer-se da PT – em condições de preço muito
desfavorável e sem nenhuma garantia de salvaguarda do interesse
português na empresa, que é a maior tecnológica portuguesa .
Conferir AQUI .
CIMPOR – Maior grupo
cimenteiro português, vendido à construtora Camargo Corrêa e à
cimenteira Votorontim, que tomam firme o seu capital em 2012 para de
imediato o desmembrarem entre esses dois gigantes brasileiros. Perde-se
assim qualquer lógica nacional num grupo presente nos quatro
continentes e que estava em franca expansão.
Conferir AQUI.
GES – Detinha um património
próprio com peso relevante no PIB português, na Banca (BES, BESA,
ES Suiça, Brasil, ES Investimentos, etc.), nas Telecomunicações
(PT), nos Seguros (Tranquilidade), na Saúde, no Turismo, no
Imobiliário (amplo portfólio em Portugal e Brasil), no agronegócio
(total de 200.000 hectares no Brasil, Paraguai, Moçambique e
Portugal), na energia (petróleo e produção no Brasil e Paraguai).
Após ser proibido pelo BCE de
contrair novos empréstimos - uma sentença de morte para qualquer
banco - o Banco de Portugal (mera filial do BCE, hoje) e o 'governo'
cumprem à risca as ordens do BCE e liquidam sumariamente o grupo,
colocando os ativos não-tóxicos num Novo Banco, com vista a
entregar tudo e de forma rápida em mãos estrangeiras, o que
parece aliás dar a esta gente um enorme gozo.
Conferir AQUI.
Falso! Como se verá a seguir.
Além disso, a Alemanha, o RU, a França ou a Holanda são centros capitalistas mundiais, possuem grupos multinacionais sólidos que fazem questão em manter a nacionalidade de referência, portanto nem se põe a questão de perda dos centros de decisão nacionais.
Air France-KLM, Lufthansa ou British
Airways (algumas já eram privadas, mas sempre foram e continuam
a ser de bandeira) - serem privadas ou não, é irrelevante para a sua identidade e centros de decisão e de produção.
Ao contrário da TAP, inserida num país
debilitado e empurrado pelos privatas no poder para níveis
cada vez mais próximos do 3º Mundo.
A Air France, após fusão paritária
com a KLM, mantém o Francês como língua de
trabalho obrigatória – está no regulamento da
'governance' - e o Estado francês mantém o
seu poder de decisão - também regulamentado.
Só gente desonesta e manipuladora faz
comparações fora do contexto e que omitem detalhes fundamentais.
Mas na Scandinavian Airlines-SAS os três Estados nacionais - sueco, norueguês e dinamarquês - detêm mais de 50% do capital...!
Será então a SAS mal gerida? Ou os
governos escandinavos são burros, e Passos Coelho e Pires de Lima
os espertos?
Nota-se... - até no estado comatoso em que colocaram o país.
4. “Numa TAP sob tutela do
Estado haverá sempre suspeitas de corrupção [casos
VEM-Brasil, Portugália, etc.].
Além disso há pressões
abusivas de pilotos e outros pessoal, que chantageiam o
Estado”.
Então agora o argumento passa a ser: com a
privataria acaba automaticamente a corrupção e os sindicatos ou
pilotos são logo metidos na ordem.
Mas quem garante que um privado
poderoso não corrompa um
futuro governo fazendo negociatas, aliás previsíveis pelo
acordo (citação no início) com a Vincis-ANA?
Quanto a “meter na ordem”, sabemos
que o sonho da privataria selvagem é substituir trabalhadores por
robôs e por uma mão-de-obra submissa e sem direitos.
Há quem chame a isso de fascismo.
Pessoalmente, prefiro um Estado justo e com força para negociar firme, pondo na ordem os privilegiados, sim, mas pelo confronto com as suas responsabilidades face ao país, não pelo medo.
Basta um governo competente e patriótico.
Governos incompetentes e
anti-nacionais não são uma fatalidade.
É uma questão de dar ao povo opções credíveis e de o esclarecer.
5. “O turismo e a TAP:
apenas Lisboa é beneficiada. Faro, Porto, Açores, Madeira,
Alentejo, etc. não têm beneficiado de ajuda relevante da TAP”
Um argumento ignorante para convencer
ignorantes.
A TAP tem que ser avaliada pela
cadeia de valor que cria. Não isolando este ou aquele elemento.
A TAP, pelo simples facto de ter sede
em Lisboa, criou um hub internacional com muitos milhares de
postos de trabalho directos e mantém a cidade e o país no centro
das rotas América-Europa-África e Oriente.
É por ser a base duma grande companhia
aérea que o aeroporto de Lisboa é altamente
lucrativo, o que lhe permite sustentar aeroportos deficitários como
Porto, Faro, Ponta Delgada, Funchal e restantes.
Se não for a TAP e o Hub de Lisboa,
quem paga a operação dos outros aeroportos? A Ryan Air?
Mas as 'low coast' alguma vez
deram alguma coisa a alguém?
Só se for... acidentes, fruto da
precaridade em que se baseia a sua operação. Como ainda agora se constatou na Air Asia...
6. “O hub de Lisboa não tem valor estratégico. Apesar da TAP dispor de excelentes ligações intercontinentais, não é uma prioridade nacional possuir uma plataforma entre o Brasil e a Europa. Este hub vai exigir investimentos pesados num novo aeroporto, mais despesa para o Estado”
Helas ! A ver se nos entendemos...
Primeiro, a privataria reconhece que a TAP tem
excelentes ligações.
Depois, no
acordo ANA/Vinci está definido que um eventual novo
aeroporto em Lisboa, será por conta da concessionária.
E no fim, dizem que a plataforma de Lisboa não é importante, enquanto tentam assustar com as despesas do Estado?
Bem... entendam-se! E vejam se dizem
coisa com coisa...
De resto, a
TAP vem registando lucros operacionais consecutivos
(2013: € 44,1 milhões) e há
17 anos que o Estado não mete lá um centavo.
Ao contrário do que os privatas
apregoam, a TAP não apresenta grandes riscos financeiros.
Segundo o pŕoprio Relatório e Contas
de 2013, as vendas anuais do grupo foram de € 2.722,9
milhões, o ativo é de € 1.695,1 milhões, a dívida
líquida de 780
milhões, da qual apenas 373,3
são capitais
próprios negativos.
Se a isso associarmos um setor de
manutenção e engenharia dos melhores do mundo, uma imagem de
segurança e qualidade também entre as melhores, rotas e
passageiros em acentuado crescimento, e um hub gerido pela Vincis que está a usá-lo como base
para se expandir nessa área de negócios – a TAP constitui uma
excelente oportunidade para qualquer investidor.
Não seria difícil a colocação em
bolsa de 25 a 30% do capital, permitindo um encaixe mínimo de €
700 a 1.000 milhões, assegurando o auto-financiamento e a
renovação da frota da TAP.
Sem perda da maioria clara do
Estado.
Boa parte desse capital poderia ser
voluntariamente subscrito pelos trabalhadores da TAP e pelo público
português, bastando um bom pacto social devidamente negociado.
A TAP é um dos maiores exportadores
nacionais, fazendo entrar todos os meses divisas preciosas ao
equilíbrio da balança externa.
Emprega diretamente quase 13.000
trabalhadores, na sua maioria qualificados e bem remunerados –
o que, em vez de ser considerado um mal, devia ser visto como
estímulo à subida do nível de vida geral, até pelo rendimento que
injeta na economia nacional.
A TAP possui dezenas de fornecedores
que geram centenas de postos de trabalho indiretos.
Muitas escolas superiores e técnicas formaram o seu pessoal especializado, bem como o do hub
de Lisboa e dos restantes aeroportos articulados a ele.
O seu know how é também
importante para a embrionária mas relevante indústria
aeroespacial.
O fundador general Humberto Delgado e
os pioneiros da aviação Gago Coutinho e Sacadura Cabral – 1º voo
sobre o Atlântico sul – estarão a dar voltas à tumba face a tanta barbaridade contra a aerotransportadora.
Basta de chantagem e mentiras num
assunto que merece amplo consenso de todos os que se respeitam,
porque respeitam o País !
Excelente!
ResponderEliminarObrigado :)
ResponderEliminarNo dia 31 de Janeiro, às 15.00, no Aeroporto de Lisboa.
ResponderEliminarConcentração contra a Privatização da TAP!!!!
Vamos todos opor-nos a esta negociata!
https://www.facebook.com/events/316940438501047/?ref=3&ref_newsfeed_story_type=regular
Pena não conhecer ter conhecido há mais tempo.
ResponderEliminarAprendi muito, quero saber mais.
Faz falta conhecer toda a verdade. Obrigada
Seja bem-vinda, Conceição.
ResponderEliminarMuito bem escrito e esclarecedor!
ResponderEliminarÉ preciso estas narrativas alternativas para que não nos inundem com propaganda neoliberal!