03/06/2013

O ECONOMÊS VEM EM SOCORRO DA POLÍTICA DE DESASTRE NACIONAL E EUROPEU

Perante o afundamento total da política da troika FMI+BCE+UE, traduzida na recessão e desemprego que já atingem o coração da Eurozona, em Portugal o descrédito da política de terror económico atinge um ponto tal que o sistema pede socorro aos pesos-pesados outsiders para tentar repôr alguma autoridade moral a este destroço à deriva que é o governo, num caminho desgovernado que não deixa de causar "mortos e feridos".

Três exemplos destes "independentes insuspeitos" são os srs. Horta Osório - CEO do Barclays Bank, em Londres -, Augusto Mateus - do ISEG, ex-ministro da Economia, e em tempos longínquos líder do radical MES -, e  Silva Lopes - ex-ministro e ex-presidente do Montepio.

O primeiro deles, em entrevista a Gomes Ferreira da SIC, vem com a história da Carochinha do país acima das posses, e que agora não só tem que pagar, como reajustar a Procura à sua capacidade de produção. O velho truque da linguagem popularucha ("viver acima das posses"), em que se descreve a Economia dum país como se fosse a duma família. Tipo, "gastaste muito, agora tens que ser poupadinho e pagar". Ôlalá. toma que já almoçaste! Com uma frase assassina calam-se todas as bocas, não é?... Oops... Mas há sempre alguém que se recusa a fazer figura de estúpido cooperante.

O azar é que este receituário é aplicado há pelo menos dois anos e os resultados são desastrosos. A Economia afunda, o Estado endivida-se exponencialmente a 2 milhões € / hora, e a dívida externa não há meio de baixar, porque entretanto tem que se pagar empréstimos com novos empréstimos acrescidos de juros e honorários da troika. Não falando no modo revoltante e grosseiramente discriminatório como se divide os portugueses em cidadãos de primeira (os grupos amigos do governo, certos empresários e altas funções) de segunda (os trabalhadores do privado) e de terceira (os reformados, desempregados e funcionários públicos) - naquilo que é já um aviltante e vergonhoso novo apartheid social.

UMA ECONOMIA NACIONAL NÃO É IGUAL À DUMA FAMÍLIA

A Economia dum país não é como a duma família. Nenhuma família urbana se quiser ter carro, casa, eletrodomésticos, roupas, energia, água, é autosuficiente. Já um país, sim, tendencialmente pode sê-lo, embora com custos pesados num sistema aberto. Mas um país pode efetivamente gerir a sua própria crise, tomando decisões em relação ao que deve produzir e como, em relação ao que deve pagar, quando e como. Apenas terá que aplicar uma palavra que parece impossível de pronunciar para alguns: RUPTURA.

A propósito, tomemos uma afirmação do citado e voluntarioso Horta e Costa (HC). Quando questionado sobre a curialidade dos métodos usados pelos EUA e RU ao aumentarem exponencialmente a emissão de moeda como estimulo à Economia, HC quis mostrar fibra e com um sorriso ligeiramente amarelo, diz: "Bom, eu não deveria responder a essa questão, mas vou fazê-lo... A solução adotada pode considerar-se válida se a considerarmos como uma exceção à regra. Dado que a economia americana estava com reduzida velocidade das transações (V), o seu governo compensou fazendo entrar mais moeda em circulação (M). É uma estratégia que pode ser usada transitoriamente".

HORTA E COSTA A INOVAR A TEORIA ECONÓMICA?

Ora aqui temos - digo eu - uma "bela" inovação da teoria quantitativa do valor da moeda, que se ensina como  explicação da inflação no primeiro ano de qualquer curso de Economia ou até no Secundário, sendo traduzida pela fórmula: MV = PT, onde M é quantidade de moeda em circulação, V  a velocidade de circulação da moeda, P o nível geral de preços e T a quantidade de transações efetuadas nessa Economia.

Como em qualquer equação, aumentando um dos lados por causa da moeda em circulação - necessariamente tem que aumentar o outro lado também, sob pena de deixar de haver equação.

Se a quantidade de moeda aumenta exponencialmente (caso dos EUA, que vem injetando triliões de dólares), é impossível que T (quantidade de transações) acompanhe esse ritmo, portanto só pode dar uma inflação acentuada, por aumento de P para equilibrar a equação. Então porque não temos aumento da inflação? É o que Horta e Costa esconde, e nisso deveria ter havido insistência do jornalista. Infelizmente, alguma subserviência, acompanhada duma certa falta de preparação, impede estes jornalistas de serem mais agressivos em questões cruciais.

A verdade é que só pode haver uma causa para o não aumento da inflação nos EUA, Reino Unido, etc. Como venho explicando neste blogue desde há muito, só não aumenta descontroladamente a inflação porque o dólar é a moeda mundial, logo, pode comprar mercadorias em qualquer parte do mundo. Elas  faltam no país emissor, os EUA? "No problemo". Há sempre "transações" mundiais suficientes para alimentar a Economia dos EUA, evitando assim a subida do  P (preços) na equação. Resta um óbice: como é que esse dinheiro que sai do país para o mundo é compensado na Balança de Pagamentos, para equilibrá-la? A única resposta só pode vir de entradas sob a forma de investimentos ou de remessas unilaterais.

Não tenho nenhuma agência de detetives ao meu serviço, mas por mera lógica, tudo aponta para o uso de offshores e negócios de fachada, para essa compensação monetária. E porquê países terceiros, como China, Brasil, países árabes, etc., deixam passar tais negócios que permitem um país rico viver à custa deles e doutros? A resposta é complexa, mas a base é manter a estabilidade do sistema que doutra forma colapsaria, arrastando o mundo inteiro. Perder um pouco para ir ganhando alguma coisa, melhor do que perder tudo numa megacrise mundial, será o raciocínio destes países.

O que pretendo provar com esta desmontagem da "teoria" do sr. HC é a miséria do economês. Estes agentes do neoliberalismo, independentemente de seguirem a via da injeção monetária fraudulenta norte-americana ou britânica (esta última através das suas múltiplas off-shores), ou a do espoliação terrorista das classes médias do sul da eurozona (de inspiração alemã), baseiam-se em teorias completamente fraudulentas. Uma das prováveis consequências que a atual crise do capitalismo está a provocar é o desmoronamento das teorias económicas tradicionais ensinadas nas faculdades, com  a demonstração de que muitas delas têm um carácter puramente ideológico e utilitário, ao serviço dos grandes interesses económicos mundiais.

Um bom exemplo é a teoria das vantagens comparativas, produzida por David Ricardo (economista inglês de origem judaica), que mais não fez do que defender os interesses imperiais da Inglaterra vitoriana, traduzidos na imposição a vários países dos produtos industrializados britânicos, reservando aos outros o papel de "especialistas" em produzir matérias pimas minerais e agrícolas, de muito menor valor.

MATEUS E LOPES FAZEM O PAPEL DE BOMBEIROS

O sinuoso Augusto Mateus, em recentes relatórios (muito bem pagos, decerto) diz-nos  que "a culpa do mau uso dos fundos europeus em 30 anos foi nossa". Porque somos "fraquinhos", e nem houve interesseirismo nenhum dos "bonzinhos" dos países do diretório europeu, subentende-se.  Já o "independente e reformado" Silva Lopes, vem muito utilitariamente declarar que as "pensões de reforma altas" devem mesmo ser cortadas e ele é dos que não se importa nada com a sua. Pois não, mas devia informar dos cargos milionários que tem tido ultimamente, entre eles o de administrador da EDP, que obteve recentemente, depois de sair do Montepio invocando (?!) excesso de idade, pelo peso dos seus 75 anos, que afinal no cargo da EDP já não lhe pesam.

Quanto a estes senhores, principalmente o primeiro - o único que valerá a pena - a quem um colega do ISEG chamava "peixe de águas profundas" (para bom entendedor) deixarei para um comentário mais aprofundado. Que este já vai longo.







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