22/07/2015

O CONCEITO DE ESTRATÉGIA DO 'PODEMOS'

Um debate entre lideranças do PODEMOS de Madrid e outros destacados ativistas locais. Pablo Iglesias, lider do PODEMOS, é o autor do programa televisivo, emitido pelo canal iraniano em língua castelhana HispanTV.

O vídeo está disponível no You Tube.

Bom nível cultural, objetividade, fluidez, frontalidade (uns furos acima dos nossos lideres domésticos) e crença nos movimentos sociais em que participam. E ainda... um esforço aparente em não repetir os erros gregos.

Essa é a 'boa notícia' quanto ao PODEMOS.

A 'má notícia' é que, apesar de todo o discurso sobre  "estratégia em vez de táctica" não existe uma real alternativa estratégica ao sistema económico-social vigente.
O máximo que conseguiram propor neste debate foi algo como (em  resumo - não é uma transcrição):

A conquista dos principais  municípios pelos movimentos de cidadania não tem futuro se não tomarmos também as regiões  (no caso, área metropolitana de Madrid), e depois o Estado, de modo a obter meios financeiros para sustentar os municípios, caso contrário a  direita usará o aparelho de Estado para cortar a torneira dos fundos e, como domina os media, vai usá-los ao mesmo tempo para uma campanha culpabilizadora dos executivos municipais. 
Hoje, Madrid é uma metrópole que, após perder a cintura industrial, se transformou num centro financeiro global que atrai capitais especulativos de todo o mundo, o que permite manter cerca de 15% da população com bons empregos e alto nível de vida, enquanto remete o resto da população para uma crescente proletarização (um pouco ao estilo norte-americano).
A revolta a que se assiste em Espanha não provém dos excluídos, mas das classes médias que se sentiram defraudadas por não terem recebido os benefícios prometidos nos anos 80 e 90 mas pelo contrário se verem a perder cada vez mais direitos e poder de compra.
"Temos de manter a mobilização" e para tanto usar o poder municipal como nova plataforma mobilizadora. Mas isso só por si não será suficiente. Há que pensar no futuro próximo e, nas eleições autonómicas a realizar este ano, tentar tomar a região metropolitana e construir um sistema alternativo ao atual.  Um sistema que em vez de sacar aos pobres para dar aos ricos pratique uma redistribuição mais justa dos rendimentos.
Madrid tem que continuar a ser uma cidade global, mas há que convencer os capitais a virem para Madrid  já não pelos baixos custos salariais mas por perceberem que lucrarão mais com uma economia justa e equitativa e, portanto, com mais poder de compra.

- O texto anterior resume o debate, que pode ser visto na íntegra, em espanhol,  no vídeo.
https://youtu.be/4vBxma5Qp5Y




Portanto,  o PODEMOS acredita piamente que o sistema não é assim tão mau, e que é possível uma alternativa que harmonize trabalhadores e capitalistas, colaborando e pondo acima de tudo o bem-estar da sociedade.

Mas só quem acredita na 'bondade" dos especuladores e terroristas financeiros globais pode alimentar a ideia de que vão investir na cidade e no país, existindo na Região e no País as mesmas baixas taxas de juro e um governo de radicais de esquerda.

A não ser que o PODEMOS pense em subsidiar os capitais especulativos pagando-lhes juros altos. Mas, além do patético desta solução para um partido de esquerda, quem pagaria a fatura?

Em suma, o que as lideranças "cidadãs" de Madrid e o líder Pablo Iglesias se propõem (conclusão inequívoca do debate) é aceitar a continuação desta economia baseada na especulação financeira, embora adoçada por medidas social-democratas de redistribuição de rendimentos  -  rendimentos que, no entanto, ninguém explica donde virão já que, integrando-se Espanha (ou qualquer outro país) nesta globalização selvagem subordinada aos especuladores financeiros, e continuando o dumping  económico, social e ambiental que caracteriza o sistema na atual fase - traduzido na invasão de bens vindos dos países da periferia, produzidos através de trabalho semi-escravo e sem direitos humanos ou regras ambientais, bens que invadem e destroem qualquer sistema produtivo real nos países do centro - a prosseguir este modelo, como serão gerados meios financeiros? Pura ilusão!


Os "donos" globais do sistema engordam as suas gigantescas contas bancárias através do domínio do sistema financeiro mundial, corrompendo lideranças e manipulando mercados, grandes empresas e países, ao ponto - como frisava um comentador a propósito do 'aGreekment' - de fazerem na prática uma OPA (oferta pública de aquisição) sobre o próprio país helénico. Que não é mais que a ampliação do que já vinham fazendo desde há muito com as empresas e os grupos económicos: provocar a queda do valor dos seus ativos no mercado para comprá-los  por tuta e meia, e revendê-los mais tarde com enorme lucro.

Exatamente o que está sucedendo em Portugal, com o detalhe de que aqui, ao contrário da Grécia, é feito sem barulho, no estilo resignado que caracteriza lamentavelmente o país nesta fase histórica.


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