A situação vem-se precipitando nas últimas horas.
Após a súbita demissão do ministro das Finanças e o anúncio de que a substituta seria uma das suas Secretárias de Estado, o ministro dos Negócios Estrangeiros, líder do parceiro da coligação governamental, apresentou também a sua demissão, dando-a por irreversível.
Embora as coisas em Portugal venham tendo um cunho surreal, com a falta de vergonha da direita, persistindo com um governo e uma política repudiados pela generalidade da população - bem patente nas gigantescas manifestações do ano passado e de 2 de Março com mais de 1 milhão de pessoas em todas as cidades do país, as maiores de toda a Europa - ainda assim, seria insólita a continuação deste governo, quando os sinais de apodrecimento são já tão evidentes.
Colocam-se no imediato algumas questões:
- O que mantém Passos Coelho numa teimosia patética que roça a provocação ao País? Mesmo depois de a população repudiar as políticas da troika, repúdio que avança já à própria base governamental, e quando são reconhecidos internacionalmente os números do desastre (ver: Le Monde, artigo "Portugal face à derrota da política de austeridade") (1)
- Para além do óbvio e quase único apoio das forças estrangeiras que conceberam estas políticas, haverá ainda algo mais por detrás, oculto, na resistência do PR à demissão deste governo?
- Existirão outras soluções, para além da dissolução da AR e de eleições? Por exemplo, poderá o segundo partido da coligação fazer cair o governo na AR, e propor um novo governo com o apoio do PR?
- Dada a prolongada conivência do atual PR com as injustiças praticadas por Passos , terá alguma credibilidade um governo ainda mais dependente deste órgão institucional?
Perguntas um pouco retóricas, já que a resposta é óbvia. De facto, o que se entrevê como cenário plausível é a marcação de eleições legislativas a breve trecho.
Seja qual for a solução, com o atual quadro partidário, mesmo refrescado por eleições, mantendo-se os vícios de partidocracia e de oportunismo eleiçoeiro que domina a generalidade dos partidos, perspectiva-se a continuação do pântano.
A única hipótese regeneradora seria a entrada em cena duma nova formação política, abrangente e inovadora, capaz de assumir as causas do descontentamento popular, e de renovar o sistema político, impondo uma ruptura com o dictat alemão e procurando as alianças internacionais necessárias para uma nova liderança europeia que protegesse mais as fronteiras externas da UE - única forma de travar a invasão de bens de terceiros, reindustrializar e criar empregos - e praticasse uma maior proximidade com os cidadãos, ao mesmo tempo respeitando as identidades nacionais e regionais dos europeus, não enveredando por fugas para a frente dum maior federalismo como alguns, apatetada ou mal intencionadamente, querem.
(1) Números do desastre: em apenas 2 anos de desgoverno, de resgate da banca privada e destruição deliberada de empregos, Passos, Vitor & Portas conseguem pior do que nos 3 piores anos do "famigerado Sócrates". O ritmo de endividamento do Estado, atualmente, está em mais de 5.000 milhões de euros por trimestre, cerca de 2 milhões por hora. Alucinante! A par disso, em 2012, o PIB sofria uma quebra de 3,2%, o défice governamental subia para 6,4% e a dívida pública atingia os 123,6% do PIB, e 127,3% no 1º trim./2013 (fonte: Negócios) . Face aos 108% registados em 2011, são 20% de endividamento em 2 anos!
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