Sendo eu professor da Escola Sá de Miranda, importa fazer um relato
daquilo que se passou durante a manhã de hoje, especialmente por três razões:
para memória futura; para contrariar alguns badamecos que tudo farão para criar
uma "realidade" alternativa que em nada se parece com o que
aconteceu; numa tentativa de defender os alunos que foram, sem exceção,
prejudicados pela incapacidade e intransigência do Ministério da Educação.
Para início, dos cerca de 300 professores convocados para hoje, apenas
cerca de 20 apresentaram-se. A adesão à greve foi superior a 90%, e das 22
salas em que o exame deveria ter sido realizado, decorreu em 7. O Ministro pode
dizer que 70% dos alunos realizaram o exame, mas em que condições? E passo aqui
a relatar as condições em que os cerca de 120 alunos que realizaram o exame no
Sá de Miranda o fizeram. E ressalvo que só falo de situações que vi ou que se
comprovam com o relato de vários alunos.
- o toque para o início do exame deu-se às 9h37. Isto não quer dizer
que os alunos tenham começado a fazer a prova neste momento, porque alguns
professores vigilantes (quase todos do 1º, 2º e 3º ciclo) atrapalharam-se com
as versões e, pelo menos numa sala, os exames foram distribuídos 4 vezes;
- os professores da escola reuniram-se no Auditório e, por volta das
10h, um dos colegas que vinha de fora da escola disse-nos que um grupo de
alunos (depois verifiquei que seriam cerca de 50) tinham saltado as grades e
circulavam pelos corredores das salas onde o exame estava a ser realizado. Logo
de seguida, fomos informados (ainda no Auditório) que a PSP tinha sido chamada
e estava a circular na escola. Posteriormente os alunos afirmaram (alguns para
as câmaras de televisão) que entraram nas salas, incitando os colegas a sair,
enquanto os vigilantes fechavam as portas e diziam aos examinandos para
continuar o exame. Cantava-se nos corredores a "Grândola, Vila
Morena" e pontapeavam-se portas fechadas;
- a PSP demorou cerca de uma hora a conseguir que os alunos que
circulavam na escola saíssem. Mesmo assim os alunos pararam nas escadas de
acesso para cantar o Hino Nacional;
- apesar dos alunos terem começado o exame com vários minutos de
atraso, quando se ouviu o toque do fim das duas horas, já os primeiros
examinandos estavam no portão da escola, o que significa que os vigilantes não
respeitaram a indicação de fazer todos os alunos esperarem pelo toque para
abandonar a sala;
- um grande número de alunos afirmava ter ouvido telemóveis a tocar
durante o exame, enquanto outros garantiram que os alunos que estavam a fazer
exame comunicaram, sem problemas, o conteúdo do exame para quem estava de fora.
Foi nestas condições que os alunos fizeram o exame. Não sei se terá
sido assim para os 70% do Crato, mas, se foi, que grande exame!!!
Há que assinalar também que foi a primeira vez em muitos anos (estou
nesta escola desde 2000) que a inspeção não marcou presença no 1º dia de
exames. Vá-se lá saber porquê.
Colegas, partilhem, por favor. Estas situações não podem
ser branqueadas e não é possível que o Ministério sequer tente falar em
"normalidade".
Sem comentários:
Enviar um comentário