24/06/2016

BREXIT - DEMOCRACIA OU "INSIDE JOB"?

Embora desde há muito considere a UE uma coisa perversa e o euro o seu principal instrumento, confesso que não tenho por agora certezas sobre as reais consequências desta saída britânica da UE.


LIDERANÇA DO POPULISMO DE DIREITA NEOLIBERAL

A saída é totalmente liderada pela direita xenófoba ou populista (N.Farage, líder do UKIP, é equivalente à francesa Le Pen, e B.Johnson, ex-mayor de Londres e ex-jornalista, conservador, um "produto" típico britânico - ao nível dos demagagos italiano Berlusconi ou americano D.Trump, na lógica dos interesses das máfias financeiras locais e dos media do sistema, que usa com mestria).

O partido Trabalhista, sob a liderança de J. Corbyn, um social-democrata de esquerda à semelhança do americano B. Sanders, com um discurso populista nos temas do trabalho, nunca hostilizará os grandes interesses estratégicos do sistema global, manteve uma campanha low profile e não retirará provavelmente benefícios desta saída.

O PAPEL DOS INFILTRADOS EM "INSIDE JOB"

Muito duvidoso é o papel de D.Cameron, 1º ministro conservador.

A análise vulgar e interesseira dos media do sistema apresenta as suas ações (como os referendos da Escócia e este último) como "o normal do funcionamento da democracia". E o próprio compõe uma aparência de sinceridade ao promover e participar em tais referendos, dando o ar de defender a parte inglesa.

Mas não há nada de normal nestas ações, ainda por cima vindas dum político dito conservador.

A justificação que os media dão para ele as ter promovido, é que Cameron gosta de correr riscos.

Como se o líder principal dum país com a dimensão do RU, rodeado por conselheiros de alto gabarito, dispondo dos Serviços de Informações mais sofisticados, pudesse tomar decisões numa base temperamental, como se estivesse a fazer um vulgar negócio de família.
Ao que chega a infantilização promovida na "opinião pública" pelos media do sistema...

Raciocinemos um pouco: se você fosse um agente infiltrado e tivesse empreendido deliberadamente uma ação de sabotagem, que outra postura teria, senão compôr um ar preocupado? Estamos a falar de agentes de alto gabarito, muito melhor atores que qualquer ator de teatro.

Na verdade, tanto um como o outro dos atos citados, são brutais  facadas no tradicional capitalismo inglês.

Metamos na cabeça duma vez por todas: Cameron não fez nada daquilo para defender a Inglaterra.

Se há uma classe dominante que sabe usar o cinismo e o taticismo recorrendo a todos os truques formais e legais para contornar os problemas, é a inglesa. Historicamente.

Eles sabem tudo a respeito.
Só que Cameron não procurou contornar nada. Ele procurou deliberadamente que o Reino Unido batesse de cabeça no nacionalismo escocês, e ofereceu igualmente numa bandeja ao "Brexit" toda a oportunidade de ter sucesso.
A aparente sinceridade com que a seguir aparece a "defender a parte inglesa", faz parte da encenação.

Tudo aponta pois - sei que soa chocante, mas é bom as pessoas irem-se habituando, vivemos num mundo muito estranho e perverso  - para que Cameron seja mais um, entre vários agentes infiltrados na alta política mundial, com a missão específica de lançar a confusão no sistema, abrindo espaço para a maior máfia mundial (que, sendo muito eficaz, sabe manter-se na toca, esperando o terreno ficar bem minado e apodrecido para então aparecer à luz do dia) -  tomar o controle do mundo, provavelmente quando a ameaça duma apocalíptica guerra nuclear estiver eminente.

Muita imaginação? O contrário, falta dela e convencionalismo por parte dos que não têm capacidade de análise política e que vão seguramente acusar-me de inventar mais uma mirabolante teoria da conspiração.

CAMERON NÃO É UM CASO ISOLADO

Esta questão dos elementos infiltrados a alto nível, coloca-se noutros grandes países, como a Alemanha (onde A.Merkel vem tendo um papel muito estranho, como se tornou patente no seu apoio à invasão da Europa pelos refugiados, algo completamente irracional, e ainda mais estranho para um país como a Alemanha, tido como altamente organizado e conservador), ou o Brasil e a Venezuela (onde não se entende como deixaram a economia afundar-se e a direita política e judicial avançar  por um caminho que lhe foi escancarado por instâncias máximas da administração).

Na ex-URSS, torna-se hoje óbvio que o regime foi desmantelado deliberadamente a partir de dentro  pela gang de Gorbatchov, ao ponto de entregar as riquezas russas de graça ao capitalismo global. O que só não se consumou pela proverbial resiliência do povo russo, que permitiu ao nacionalista Putin e à sua clique saída do antigo KGB, tomar o poder e estancar a sangria.

Se esse trabalho de infiltração foi conseguido com êxito numa superpotência - ainda por cima socialista - como a URSS, porquê noutras potências menores e capitalistas haveria de ser diferente?

ENFRAQUECIMENTO DUMA PARTE DO SISTEMA

Obviamente que esta saída do Reino Unido enfraquece em primeiro lugar ele-mesmo, admitindo-se agora abertamente a separação da Escócia e da Irlanda do Norte e um brutal enfraquecimento da Inglaterra como potência mundial.

Londres era até agora, junto com a Wall Street, um dos maiores centros financeiros mundiais. polarizando vasta rede global de offshores.

A maior parte dos empréstimos europeus, apesar da ascenção entretanto de Frankfurt e Luxemburgo, continuava a passar pela City de Londres. Ao sair da UE, é inevitável que, de forma massiva, estes fluxos se transfiram para praças continentais, perfilando-se Frankfurt e Paris como primeiros candidatos a substituir Londres.

A Inglaterra é hoje um país de serviços e os investimentos provenientes de todo o mundo são um factor fundamental na sua economia.

Ao sair da UE, a Inglaterra isola-se e perde boa parte da atração. O seu PIB cairá abruptamente nos próximos anos, e ocorrerá um penoso processo de restruturação económica, com contornos dolorosos e violentos.

A UE sofre também uma forte derrota porque, sendo a Inglaterra um parceiro sempre incómodo, as relações económicas e sociais, porém,  eram muito fortes. O "Brexit" constitui uma perda económica líquida, não só pela redução dos fluxos, como também pela instabilidade que o seu efeito de contágio vai produzir no espaço europeu.

QUANTO PIOR, NÃO É NECESSARIAMENTE MELHOR

Para os adeptos dum conceito irracional - o do "quanto pior, melhor" - tudo que cheire a desgaste duma parte do sistema é uma coisa boa.

Esquecem esses adeptos da demagogia tremendista que o sistema é muito mais vasto que apenas uma parte dele.

Mais esquecem que o sistema tem pelo menos dois pólos e duas lógicas - a lógica da grande finança da Wall Street, representada temporariamente por Obama (a seguir virá outro) - e a lógica doutros pólos aparentemente diversificados, mas unidos através duma rede oculta que os manipula e liga (não duma forma mecânica, porque se trata de "inside jobs", mas flexível e complexa, cheia de sombras e tons de cinzento - de que Cameron será um exemplo).

Assim o enfraquecimento do pólo mais evidente do sistema, é seguramente uma vitória, sim, mas de quem se lhe opõe de forma decidida, eficaz, e bem planeada.

O que não é seguramente o caso dos povos do mundo, cada vez mais manipulados e desorganizados, apesar de histerismos e gesticulações patéticas como as que ocorrem nas chamadas redes sociais ou nas ruas de França.

É revelador que nas grandes manifestações brasileiras de 2013 se gritasse tanto por combate à corrupçãosaúde, educação, transporte e habitação e hoje tais slogans quase deixassem de fazer parte da "agenda popular", após a tomada do poder pela direita que começa já a vibrar profundos golpes no poder de compra popular e em todo o setor social-assistencial. E que as manifestações de rua quase tivessem desaparecido (salvo as da central sindical CUT e do MST ou equivalentes, com pouca visibilidade pública já que são abafadas pelos média do sistema).

Aliás, as forças da esquerda tradicional continuam a apostar em estratégias convencionais completamente inadequadas, não percebendo que apostar em figuras desgastadas e duvidosas é ajudar à sabotagem de que o movimento popular foi vítima).

Tudo isto mostra que certos temas que inundam um público facilmente  manipulável, desaparecem do mapa logo que o poder político é tomado pelas forças (ou parte delas) que manipulavam tais temas na sombra.


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