21/07/2014

O CASO ESPÍRITO SANTO E O PAPEL DA BANCA

O jornalista Paulo Pena expõe numa entrevista dados contundentes sobre a promiscuidade entre a banca e o poder político - que é total.

"Os bancos têm a maior responsabilidade na crise ao malbaratarem dinheiro em enormes investimentos não-reprodutivos, como na construção".

Passos Coelho e outros omitem totalmente essa responsabilidade, para manter o mito do "país acima das posses" e o sentimento de culpa na população.

Sem ter a visão um pouco redutora dos autores, considero que eles trazem peças importantes para montar o puzzle final das causas da crise financeira portuguesa.

Clique no link para a entrevista de Paulo Pena, autor do livro BANCOCRACIA:

http://videos.sapo.pt/CJDkopIYCTUTnlYrYwAQ

Já o texto de Pedro Guerreiro revela dados novos e a razão de parte do barulho em torno do Grupo Espírito Santo: há por aí muito ricaço a ficar arruinado. 

Até a imagem da "maravilhosa" Suiça - certamente um dos países venerados pela Economist, pelo governo P&P e por tanta gente míope - fica de rastos: para lá fugiram €30.000 milhões ilegais, de magnatas portugueses, calculando-se que 80% disso venha de FUGA AOS IMPOSTOS. Dava para os juros do resgate da troika em toda a duração do empréstimo.

Outra razão - não mencionada no artigo: grupos económicos afiam a faca para devorar os despojos lucrativos do GES. Anos atrás, o grupo BES enfrentou uma OPA hostil da SONAE, por causa da PT. Essa mesma SONAE que pôs a sua SGPS "ao fresco", na Holanda. Também se fala do interesse do gigante brasileiro Bradesco, o que se entende pela hipótese de vir a controlar a PT e a Oi (é o fabuloso mundo da economia global). Há ainda notícias mostrando interesse da Goldman Sachs.



Voltando ao GES, se fossem somente os pobres e a classe média a perder (ou a ganhar), não assistíamos de certeza a tanto fogo de artifício que se vê por aí.
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Opinião
Escândalo GES chega à Suíça – ou quando os ricos ficam pobres
Não foram só as Bolsas, outra razão apressou a sucessão no BES: antecipar-se ao iminente colapso do GES. Pois bem, ele começou. Como o Expresso hoje revela, já há “default” na Suíça. Há clientes que não estão a receber o dinheiro aplicado. Há uma minoria do país que vai deixar de ser silenciosa. Pobres ricos.
(...) Muitos credores da ES International vão perder dinheiro. Muitos nem sabiam que eram credores.
A Portugal Telecom é um caso muito evidente, porque é uma empresa grande. Mas o veneno do papel comercial da ES International está disperso por centenas de carteiras de investimento. 
(...)
Muitos deles [clientes] são… portugueses.
O Grupo Espírito Santo não é dono só de um banco, o BES. É dono também de um banco na Suíça, o Banque Privée Espírito Santo. É um banco que gere grandes fortunas e que tem muitos clientes portugueses. Nos últimos anos, o banco ganhou ainda mais clientes, porque muita gente teve medo do fim da moeda única e tirou dinheiro não só do país como da zona euro. E a velha Suíça, que inexplicavelmente tem boa fama embora preste os mais opacos serviços financeiros da Europa, acolheu fortunas imensas. E sim, também há fortunas imensas portuguesas. Onde investiu o Banque Privée esse dinheiro? Numa série de títulos. Incluindo em papel comercial do GES, que agora está em “default”. Em incumprimento. Chama-se calote.
Clientes do Banco Espírito Santo em Portugal transferiram dinheiro para o Banque Privée Espírito Santo na Suíça que foi investido na Espírito Santo International, que está falida.
(...)
Muita gente achará que é bem feito, os ricos que se lixem. É uma visão errada: a frase “a justiça deve ser igual para todos” também se aplica na lógica inversa à habitual. Mas não deixa de ser irónico que quem tenha querido fugir do risco de o euro desaparecer perca agora dinheiro; e que quem veja na Suíça um porto seguro perceba que a Suíça é uma casa onde senhoras de boa fama praticam atos de mulheres de má fama. Como dizia há mês e meio neste jornal Gabriel Zucman, autor do livro "A Riqueza Oculta das Nações", há €30 mil milhões de portugueses na Suíça. 80% desse dinheiro será, estima ele, de evasão fiscal. Se parte do dinheiro que agora for perdido por clientes do Banque Privée foi não declarado, então sim há um certo sentido de justiça: quem o perder nem vai poder reclamá-lo, pois é dinheiro que, para fugir aos impostos (se não a outra coisa), saiu por debaixo da mesa.
Talvez agora se comece a perceber a dimensão do que está a acontecer no GES, que vai avançar para um processo de reestruturação, que inclui a venda de ativos e a consolidação de passivos da ES International e da RioForte. O processo pode ser controlado, o dinheiro aplicado não vai ser todo perdido, mas sê-lo-á em grande parte, num processo que durará tempo. O caso só não é pior porque o Banco de Portugal protegeu os clientes que compraram papel comercial da ESI através do BES (nomeadamente da gestora de fundos ESAF). Senão, já teríamos bidões a arder na avenida da Liberdade. Assim, teremos processos judiciais. E teremos muitas famílias ricas a perder fortunas. Muitas não fizeram nada de mal. Apenas confiaram no nome Espírito Santo.
Ainda hoje não se sabe bem a totalidade do buraco do Grupo Espírito Santo, mas sabe-se que a dívida em papel comercial ultrapassa os seis mil milhões de euros. Os acionistas do GES (família mas não só) perderão muito dinheiro. Credores como a Portugal Telecom, a Venezuela e clientes do Banque Privée com títulos da ESI perderão dinheiro. Muitos ainda desconhecidos também. O próprio BES também perderá crédito concedido ao grupo, mas num valor suficiente para lhe resistir.
A sucessão vira a página no BES, mas a família Espírito Santo enfrenta muito mais que a desonra. Enfrenta prejuízos. No BES e no GES estamos a assistir uma mudança histórica, mas em fases diferentes. No BES é o fim do princípio, no GES é o princípio do fim. O BES gere pela vida, o GES luta contra a morte. Virou massa falida.

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