21/10/2013

COMO PARAR COM O ASSALTO? ( É PRECISO ACORDAR )

As notícias sobre as medidas de terror económico do OE 2014, com novos ataques aos funcionários e aos reformados, não param de sair. 
O desGoverno insiste nesta estratégia, ideal para a rapinagem financeira internacional e nacional, mas desastrosa para o povo. 


A marcha falhada da CGTP na ponte é uma metáfora da Oposição impotente que temos. Os protestos fracassarão enquanto não se focarem nos grupos mais atingidos e os mobilizarem
Coelho e seus mandantes sabem que atacar a população toda ao mesmo tempo, como quase fizeram em 2012 com a TSU, não é uma boa estratégia - leva à revolta popular. Perceberam-no com o 15.Set desse ano.

Por isso trataram de incidir o essencial do saque da troika sobre três grupos vulneráveis e já antes repetidamente vergastados: os reformados, os desempregados e os funcionários públicos 



EM VÁRIAS FRENTES
Com isso, a troika estrangeira consegue ganhar em várias frentes: na pilhagem que faz ao nosso País, na liquidação do Estado e da independência nacional, e na neutralização da maioria da população, mantida por ora na ilusão de que pode escapar sem perder o escalpe como acontece aos grupos referidos (um trágico engano, mas nestes tempos de individualismo feroz, a táctica ilusionista funciona. Está provado que a dívida que este governo vem acumulando - já quase 140% do PIB, após engolir os prejuízos dos privados - é impagável e acabará por esmagar todo o País)

CAPITULACIONISMO DA "OPOSIÇÃO"
Entretanto a oposição oficiosa - partidos e lideranças sindicais - colaboram na táctica de Coelho e da troika: ao invés de defenderem os mais atingidos, viram-se eleiçoeiramente para a população em geral, tentando convencê-la a unir-se, e só após essa hipotética "união geral" acham (?) possível tomar uma posição mais forte. 

Essa é uma estratégia com raízes na pior faceta da resistência ao regime salazarista, que Álvaro Cunhal queria derrubar não com uma revolução radical, mas com o "levantamento nacional de todos os portugueses honrados" (o que, de facto, era um programa burguês, embora envolto num hábil palavreado revolucionário, executado com a mestria adquirida na sua aprendizagem na Rússia de Estaline e durante os anos de prisão). Na preparação para esse levantamento nacional Cunhal privilegiava as reivindicações económicas, vistas como um passo para a tomada de consciência política. Porém, quem via a ação do PCP antes de 74 sabe perfeitamente que havia não evolução mas um congelamento sistemático nesse nível reivindicativo economicista. Daí, que o tal sebastiânico levantamento nacional (quiçá numa manhã de nevoeiro) nunca aconteceu, como é óbvio

Aliás, Cunhal passa mesmo a considerar a partir dos anos 60 os "radicais" à sua esquerda o principal perigo para o partido (vidé link para: "Rumo à Vitória", parágrafo 33).

COMO SE DERRUBA UM REGIME OPRESSOR

Mas qual é a verdade? - A causa directa da revolução de Abril 74 foi justamente a ação dos militares radicais que tiveram a coragem de avançar, assumindo o risco de serem presos ou mortos. Outras causas do 25 de Abril foram a luta estudantil radical, sobretudo em Lisboa e após o assassinato de Ribeiro Santos, as greves de setores avançados como os bancários, TAP e Carris, e os "levantamentos de rancho" em quartéis - todos em conjunto criando um ambiente vibrante contra o regime que não podia deixar de influenciar os oficiais das forças armadas. 
Todas estas ações, salvo raras exceções, o PCP classificava-as de "atos aventureiros irresponsáveis" e procurava travá-las.

ESPERAR SENTADOS... PELA UNIDADE?

Podemos pois esperar sentados por esse dia em que toda a população se erga unida, como parecem querer o PS, o PCP, a UGT, a CGTP e alguns outros grupos nas suas franjas. É que, dadas as características da sociedade capitalista atual - extremo individualismo, alienação consumista e mediática - esse dia nunca vai acontecer, pelo menos da forma que imaginam. 

Aconteceria se, e quando, a população fosse toda atingida no mesmo grau. Mas, mesmo nesse futuro imprevisível e nebuloso, o País estaria então já tão desmoralizado pela falta de uma verdadeira resistência que ninguém teria moral para reagir. 

A resistência forja-se na luta e não fora dela. Muito menos contra ela. Vale mais um ato de coragem como a revolta nacional da Marinha Grande de 1934 (link)  que centenas de atos de propaganda retórica amarelada. Na ação de 34, anote-se, cooperaram anarco-sindicalistas, socialistas e comunistas, estes últimos sob a orientação de José Gregório - esse sim, um revolucionário nos atos, não apenas em palavras.

Após alguns anos, um subtil mas persistente desvio de direita (muito bem camuflado sob a liderança de Cunhal, como referi atrás) impôs-se em permanência no PCP, único partido da Resistência com apoios internacionais que lhe permitiram manter uma organização contínua no interior do país até meados dos anos 60 (depois disso surgiram muitos outros grupos na Resistência).

Esse desvio de direita na principal força anti-ditadura atrasou por décadas a revolução democrática, e esteve ainda na base da derrota da revolução social após 1974, perpretada pelo putsch de 25 Nov 75. De facto, o golpe militar reacionário não encontrou qualquer resistência até porque, responder ao mesmo nível, já há muito não fazia parte da cultura e da prática do PCP. 
Mais uma prova da "causa das coisas": a fraca resistência popular à brutal agressão ora em curso, tem nessa capitulação recorrente de décadas, sem combate, a sua origem clara.


Os partidos parlamentares e as cúpulas sindicais, ao diluírem o discurso oposicionista numa vaga (e falsa) austeridade para todo o povo por igual, ao invés de assumirem a defesa honesta e firme dos principais espoliados, não prejudicam apenas estes. É um erro estratégico tão grave, que conduz todo o povo e o País em direção à derrota. 

MUDAR DE ESTRATÉGIA
As manifestações "bem comportadinhas" - peças dessa estratégia capitulacionista - têm de ser substituídas por uma mobilização específica das categorias atingidas, única forma lógica de possibilitar ações mais duras e radicalizadas sem deixar de ter uma ampla base popular.

No sentido de não se isolar do grosso da população, que é atingida mas em menor grau, haveria que ampliar a informação anti-troika, mostrando o absurdo desta política de austeridade sem fim (novos cortes =>mais recessão =>mais défice =>novos cortes) e da liquidação nacional que ela implica ao desbaratar o que resta de soberania e de grandes empresas portuguesas. Passando também por mostrar as verdadeiras causas da crise, que são não apenas nacionais (como os ideólogos pró-troika dizem), mas sobretudo internacionais.

Mas a oposição oficiosa sofre de capitulação crónica. Esperar que ela faça mais do que sabotar os movimentos de protesto é como acreditar que um ovo podre cantaA ineficácia dos protestos só reforça os agressores, que se riem na cara dos manifestantes. É por isso que, sem sacudirmos o controlo da oposição capitulacionista, jamais construiremos uma verdadeira Resistência.

O processo de pilhagem das troikas é algo que não tem fim - de facto, um beco sem saída - porque provém da crise geral deste capitalismo predador em plena fase de decadência,  incapaz por isso mesmo de sobreviver sem a fraude e a pilhagem generalizadas.

É PRECISO ACORDAR E AGIR.
A retórica vaga apenas paralisa o protesto!



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