28/02/2013

FALSAS ALTERNATIVAS DESTROEM A SOCIEDADE

Anteontem, 27/Fev, a RTPi, na série documental Linha da Frente, acompanhou um jovem casal de Gondomar na "aventura" de tentar instalar-se em Londres. Apesar das contrariedades, mau planeamento e pouco dinheiro, a narrativa que se faz passar é a do sucesso do casal.  Numa só semana já tinham emprego e estavam instalados. Que bom, né?

Em 1º lugar, estranho este documentário ir para o ar em vésperas do 2 de Março. Articulado com toda uma bateria propagandística, como no noticiário das 20h, que abriu com números "esmagadores" do défice do Estado, sublinhando que o dinheiro vai quase todo para salários e reformas.

É uma propaganda já muito repetida e suja, de bandidos ideológicos, porque:

alínea a) o DÉFICE É CULPA DO GOVERNO (e da Troika) que prometeu para este ano a recuperação económica e só provocou o desmoronamento da economia, gerando por isso menos receitas em impostos;

alínea b) o ESTADO SÃO SERVIÇOS,  saúde, educação, segurança, defesa, finanças - LOGO, feitos por pessoas, LOGO, os gastos são em trabalho - sem trabalho não há serviços, ainda não se inventaram robôs para dar aulas e cuidar da saúde;

alínea c)  as reformas, são as garantidas contratualmente, e para as quais os beneficiários pagaram ao longo de décadas. Os seus fundos nem sequer deviam estar misturados com o orçamento do Estado, é aí que começa o abuso e a mistificação - ver em detalhe AQUI.

Ao mesmo tempo, a RTP omitia o peso dos juros e amortizações de empréstimos, incluindo o da Troika. Que, se fossem renegociados, daria um défice completamente diferente .

Em 2º lugar, a história do casal referido não é muito realista. O casal já tinha contactos, num deles é que a moça se fixou como recepcionista.

Depois dá-se pouca ênfase à declaração do dono (português) duma agência de emprego local: "As pessoas, em Portugal, não aceitam trabalhar mais que 35 horas semanais; mas aqui já aceitam 60 e mais horas. Se têm um emprego, mesmo  fraco, não saiam de Portugal. Há aqui portugueses a dormir na rua porque se lhes acabou o dinheiro e não arranjam emprego". O que pode ser confirmado AQUI. Aliás, quem acompanha as notícias já sabe disto há meses.

E quem é atento viu outros detalhes:

O melhor quarto que o casal arranjou é minúsculo, sem janelas e nos fundos da casa dum brasileiro que subaluga por 600€/mês. Os salários deles, de 6,5 € /hora, face aos custos de Londres (uma sanduiche tem o custo duma refeição completa em Portugal), não permitem poupar nada, a não ser que se faça pluriemprego, tipo, 10 horas de trabalho diárias, incluindo sábados e domingos. Ou seja, que não se viva. É isto um futuro?

Em 3º lugar, a reportagem, se quisesse ser honesta, devia ter falado  com os inúmeros portugueses vivendo na rua em Londres - bastava pesquisar no Google "portugueses a viver na rua, Londres". Os autores sabem muito bem disso, portanto foi uma opção com intenções propagandísticas claras.

Em 4º lugar, a economia inglesa, muito baseada na especulação e na lavagem de dinheiro da praça financeira da City (junto com Wall Street e Hong Kong, as maiores do mundo), já está em recessão (veja AQUI). O futuro da vida em Londres - metáfora da própria UE -  adivinha-se não ser brilhante.

CONCLUSÃO

O que está em causa não é o direito à emigração ou encontrar melhores condições noutro país. Faz parte da globalização, goste-se ou não.

O que está em causa é a propaganda mentirosa, intercalada com outras formas de alienação que tenho tentado desmontar neste blogue.

Esta enorme vigarice, de convencer que é bom ser obrigado a emigrar. Enquanto,  apesar de todos os avanços na agricultura, indústria, serviços, saúde, habitação, toda a tecnologia e infraestruturas que se obteve, do enorme nº de licenciados e doutorados, etc., se cai na situação social do antigo regime.

Perspectivas de vida, só  são possíveis com uma economia equilibrada regionalmente, com centros de decisão dentro do País, dando prioridade às necessidades da população, ainda que mantendo o país aberto ao mundo. 

A perda dessas perspectivas, acentuada pelo discurso do desGoverno, só leva ao despovoamento das regiões, ao envelhecimento do País a prazo e à destruição das famílias e das comunidades.




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