16/11/2012

A pequena Islândia como um grande exemplo

Islândia, ilha maldita, incómoda, silenciada pelos media ocidentais, particularmente os europeus. A falar-se dela, é de forma omissa, sem detalhes. Ao contrário da Grécia, cujos podres, reais ou imaginários, são exibidos ad nausea.

Vejam o vídeo que descreve honestamente  a silenciada revolução islandesa, mas convido-vos a ler também as notas abaixo:






Em Portugal sempre que se toca na Islândia, logo os "bandidinhos" avençados nos media ao serviço dos "bandidões" tratam de esconjurá-la, com frases como:"Ah, mas é diferente! - lá a dívida era dos bancos, aqui é do Estado" ou  "nada a ver, a Islândia é pequenininha". E por aí fora.

Ora bem, vamos ser sérios:

1º) O problema da Islândia não é nada diferente. Tal como lá, a maior parte da dívida externa portuguesa é privada, concretamente, dois terços dela. E apenas um terço é do Estado. Apesar de os números estarem a ser alterados ano após ano, porque o Estado está absorvendo a dívida dos privados, como ocorreu com a vergonhosa nacionalização do BPN, primeiro, e com a injeção de capital nos bancos todos por parte do Estado, recentemente. Mas há mais truques, quando uma empresa despede, quem fica com a batata quente é o Estado, pagando os subsídios de desemprego. No fundo, nada diferente da Irlanda e da Islândia, como se vê...

2º) Sobre a Irlanda (nome parecido, outro país) também foi o mesmo palavreado: que ali era só um problema dos bancos privados, nunca do Estado como cá. Mas no final a batata quente ficou nas mãos do Estado irlandês, que tomou a dívida dos bancos. Descubra as diferenças com Portugal.

Em resumo, o truque é "convencer-nos" que os países são muito diferentes, tomando a situação num dado momento, descontextualizando-a, de modo a que cada povo se baralhe e não sofra o contágio das lutas dos outros países.

3º)  Quanto à Islândia ser pequena, que coisa mais ignorante!...  O problema é estrutural, portanto é para ver em % e em proporção: dívida externa versus PIB, peso relativo das dívidas  privada e pública, dependência face ao exterior, etc.

Sobre isso, convido de novo a ler neste blogue, o separador Verdade dos  Números.

No essencial tanto a Islândia, como a Irlanda, como Portugal, são economias abertas. A Islândia e a Irlanda são ilhas, mas a primeira era uma importante praça financeira, como muitas movimentações de capital internacional, boa parte do progresso islandês assentava nisso;  a segunda vem dependendo imenso do investimento estrangeiro, principalmente norte-americano, atraído pelos baixissimos impostos sobre os lucros. Portugal, desde os anos 60, com a adesão à EFTA, passou a ser também uma economia cada vez mais aberta.

À medida que a crise se aprofundava, percebeu-se que o problema de Portugal, da Espanha e dos dois citados países insulares era no essencial o mesmo. No centro da crise de todos estão os bancos privados. Com mais escândalo aqui ou acolá, há um ponto em comum: o risco de insolvência bancária está no olho do furacão. Essa insolvência, uma parte dela pelo menos, é reflexo da insolvência das famílias e das empresas, afundadas em dívidas pela desastrosa gestão do Euro.

De resto, a dívida pública portuguesa (clique para ver quadro) não é muito diferente da de vários outros países europeus, como Bélgica, Irlanda, ou Itália, e boa parte dela surge da especulação pós-2008 e da falta de intervenção do BCE. A dívida externa portuguesa total é pesada, sim, mas está na média da OCDE. A dívida líquida, está abaixo de vários países importantes, entre eles, os EUA.

E até hoje, não vimos a dívida norte-americana ser  rebaixada sequer do luxuoso triplo A em que artificialmente se mantém.

Sem comentários:

Enviar um comentário