Vejam o vídeo que descreve honestamente a silenciada revolução islandesa, mas convido-vos a ler também as notas abaixo:
Em Portugal sempre que se toca na Islândia, logo os "bandidinhos" avençados nos media ao serviço dos "bandidões" tratam de esconjurá-la, com frases como:"Ah, mas é diferente! - lá a dívida era dos bancos, aqui é do Estado" ou "nada a ver, a Islândia é pequenininha". E por aí fora.
Ora bem, vamos ser sérios:
1º) O problema da Islândia não é nada diferente. Tal como lá, a maior parte da dívida externa portuguesa é privada, concretamente, dois terços dela. E apenas um terço é do Estado. Apesar de os números estarem a ser alterados ano após ano, porque o Estado está absorvendo a dívida dos privados, como ocorreu com a vergonhosa nacionalização do BPN, primeiro, e com a injeção de capital nos bancos todos por parte do Estado, recentemente. Mas há mais truques, quando uma empresa despede, quem fica com a batata quente é o Estado, pagando os subsídios de desemprego. No fundo, nada diferente da Irlanda e da Islândia, como se vê...
2º) Sobre a Irlanda (nome parecido, outro país) também foi o mesmo palavreado: que ali era só um problema dos bancos privados, nunca do Estado como cá. Mas no final a batata quente ficou nas mãos do Estado irlandês, que tomou a dívida dos bancos. Descubra as diferenças com Portugal.
Em resumo, o truque é "convencer-nos" que os países são muito diferentes, tomando a situação num dado momento, descontextualizando-a, de modo a que cada povo se baralhe e não sofra o contágio das lutas dos outros países.
3º) Quanto à Islândia ser pequena, que coisa mais ignorante!... O problema é estrutural, portanto é para ver em % e em proporção: dívida externa versus PIB, peso relativo das dívidas privada e pública, dependência face ao exterior, etc.
Sobre isso, convido de novo a ler neste blogue, o separador Verdade dos Números.
No essencial tanto a Islândia, como a Irlanda, como Portugal, são economias abertas. A Islândia e a Irlanda são ilhas, mas a primeira era uma importante praça financeira, como muitas movimentações de capital internacional, boa parte do progresso islandês assentava nisso; a segunda vem dependendo imenso do investimento estrangeiro, principalmente norte-americano, atraído pelos baixissimos impostos sobre os lucros. Portugal, desde os anos 60, com a adesão à EFTA, passou a ser também uma economia cada vez mais aberta.
À medida que a crise se aprofundava, percebeu-se que o problema de Portugal, da Espanha e dos dois citados países insulares era no essencial o mesmo. No centro da crise de todos estão os bancos privados. Com mais escândalo aqui ou acolá, há um ponto em comum: o risco de insolvência bancária está no olho do furacão. Essa insolvência, uma parte dela pelo menos, é reflexo da insolvência das famílias e das empresas, afundadas em dívidas pela desastrosa gestão do Euro.
De resto, a dívida pública portuguesa (clique para ver quadro) não é muito diferente da de vários outros países europeus, como Bélgica, Irlanda, ou Itália, e boa parte dela surge da especulação pós-2008 e da falta de intervenção do BCE. A dívida externa portuguesa total é pesada, sim, mas está na média da OCDE. A dívida líquida, está abaixo de vários países importantes, entre eles, os EUA.
E até hoje, não vimos a dívida norte-americana ser rebaixada sequer do luxuoso triplo A em que artificialmente se mantém.
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